No Domingo de Ramos termina a Quaresma e iniciamos um tempo forte de graça em nossas vidas e de nossas comunidades. Esta semana tem início com o Domingo de Ramos. A liturgia desse dia une, na mesma celebração, dois momentos contrastantes. O de aclamar o Rei da glória erguendo ramos em saudação - "Bendito o que vem em nome do Senhor" - e o de condenar o servo sofredor, levantando os punhos enraivecidos — "Crucifica-o!". As duas vozes nascem das mesmas pessoas. Essa contradição é a marca da vulnerabilidade do ser humano no caminho do seguimento de Jesus.



A Semana Santa permite ao cristão, a cada ano, mergulhar em maior profundidade nos acontecimentos de sua fé e sair para novos rumos na vida pessoal e comunitária. Por isso que esses dias são diferentes e nos levam a reviver os fatos fundamentais da nossa fé.

A vida se encontra com a morte e a morte é vencida pela ressurreição. As celebrações desta semana nos levam a entender melhor o que motivou a morte de Cristo e se aprofundar nas palavras dirigidas a Madalena: "Porque muito amou, muito será perdoado" (Lucas 7, 47).

O "Tríduo Pascal’ – os três dias mais importantes desse período - começa na Quinta-feira Santa. Pela manhã, na Catedral, vamos celebrar com todos os Presbíteros a Missa do Crisma com a benção do óleo dos enfermos e dos catecúmenos (aqueles que serão batizados).

Este mesmo óleo também é usado para ungir os Presbíteros no sacramento da Ordem como também os que serão ordenados bispos. A celebração Eucarística da noite nos faz reviver o imensurável amor de Deus pela pessoa humana. É a inesquecível `lição´ do lava-pés, e a instituição perpétua da eucaristia.

Um gesto que escapa da nossa humana compreensão: "Jesus, tendo amado os seus que estavam neste mundo, amou-os até fim" (Jo 13,1). Amor este que não podia ir mais longe do que foi: "Se eu, Senhor e mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros" (Jo 13,14). Em outras palavras: "Do modo como vos amei, amai-vos uns aos outros" (Jo 13,34).

O Amor onipotente de Deus quis tornar-se presente para sempre, na forma de sacramento: "É o meu corpo entregue por vós... O meu sangue por vós derramado". Em todas as missas que se celebra, o passado torna-se presente — a morte e a ressurreição — e o presente anuncia o futuro: "Vinde, Senhor Jesus!"

Na Sexta-feira Santa, precisamente às 15h, quando, segundo os Evangelhos, Jesus suspenso na cruz "inclinando a cabeça entregou o espírito" (Jo 19,30) a Igreja reúne os fieis para a grande oração constituída em quatro momentos.

O primeiro deles é o da escuta da paixão narrada pelo evangelista João. Somos conduzidos a seguir os últimos passos daquele que não veio ser servido, mas servir e dar a vida em resgate por muitos. Desde o Jardim das Oliveiras, até o Monte Calvário onde, pendendo da cruz, braços abertos sobre o mundo, entrega seu espírito nas mãos do pai, exclamando em alta voz: "Tudo está consumado!".

No Sábado Santo, durante a noite que se estende pela madrugada, acontece o mais esperado momento durante toda a Quaresma e a mais esplêndida e significativa celebração entre todas as liturgias da Igreja: a Vigília Pascal, a festa da Luz: o Cristo ressuscitado, simbolizado no Círio Pascal.

Diante dessa luz canta-se a exultação do céu, da terra e da mãe Igreja pela vitória da vida sobre a morte. "Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo?" (Lc 24, 6). Diante dessa luz renovam-se as promessas do batismo pelo qual se morre e se é sepultado com Cristo e se ressuscita com Ele.

Ó madrugada bendita, do terceiro dia, cuja notícia veio das mulheres. Ele não esta aqui, o túmulo está vazio! Ressuscitou! Aleluia!
Aqui está a Páscoa do Senhor e a nossa Páscoa. Ele está vivo! Cristo ressuscitado. A luz venceu as trevas e nesta luz queremos caminhar sempre. Feliz Páscoa, feliz passagem da morte, da violência, do ódio, da vingança, do pecado, para a vida da graça e da ressurreição!

Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá