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A sociedade forma seus médicos, segundo o presidente do Sindicato dos Médicos de Maringá, Marco Aurélio Valadão Fagundes, em entrevista ao O Diário de 28 de março de 2010, para que este estamento, visto como privilegiado, (“que estudou tanto”) tenha um bom carro, uma casa em condomínio com segurança e consiga pagar a faculdade cara de um filho.

Nós contribuintes perguntamos perplexos onde entra o juramento de Hipócrates: “... cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito...”.

Ninguém prega o exercício de qualquer profissão sem a justa remuneração, no entanto, médicos, assim como qualquer outro profissional, receberam formação, em maior ou menor grau com recursos públicos, compostos com a participação de todos os cidadãos, seja daquele mais humilde na escala social ou daquele que se encontra no topo da pirâmide de nossa injusta sociedade.

A mínima obrigação seria garantir o retorno em serviços de qualidade para essa mesma população. A afirmação do presidente do Sindicato dos Médicos de Maringá só vem corroborar com essa triste realidade: a saúde (e a doença) virou mercadoria e a sua qualidade depende de quanto podemos pagar.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º., garante a igualdade de direitos a todos os brasileiros. A garantia da igualdade de direitos, ainda que formais, faz parte do legado de conquistas da humanidade e remonta a Revolução Francesa e a Declaração dos Direitos dos Cidadãos.

A luta pela igualdade se travou contra os privilégios de nascimento da velha sociedade estamental. Declarar diferença de status, nos mesmos termos desse passado remoto, e indicar descaradamente que alguns poucos, os médicos, devem ter condições de acesso privilegiado a bens materiais nos chama à reflexão.

O caso específico nos permite extrapolar a reflexão para uma realidade cruel da saúde no Brasil e que se manifesta no cotidiano dos atendimentos. Segundo o texto do Ipea intitulado “Retratos das Desigualdades” (2008), os números coletados demonstram atitudes discriminatórias na qualidade do atendimento relacionadas a práticas e comportamentos discriminatórios. Por exemplo, mulheres pobres e negras recebem o pior atendimento no sistema de saúde do Brasil.

Outra reflexão remete ao caráter elitista da sociedade, que dá a tranqüilidade a um representante de classe externar sem nenhum constrangimento sua opinião de como médicos devem viver melhor que o restante da população. Inferimos por sua fala, que nós todos, os outros, não precisamos de boa educação, segurança e boa moradia.

Fundamentalmente, fica claro que nossos cursos de Medicina carecem de uma formação humanística e social mais consistente. Que os médicos se pronunciem!


Celene Tonella e Ana Lúcia Rodrigues
Professoras do DCSUEM e pesquisadoras do Observatório das Metrópoles





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